O que é o freio lingual e qual o seu impacto nas funções orais?
Ana Catarina Silva, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer • 9 de abril de 2025

Na face inferior da língua existe uma pequena membrana, denominada por freio ou frénulo lingual, que se liga ao soalho da boca. É expectável que a língua consiga realizar diversos movimentos, como por exemplo: avançar para a frente e para trás durante a amamentação, tocar em todos os dentes para efetuar a limpeza de resíduos alimentares após uma refeição, tocar nos vários locais da cavidade oral para produzir diferentes sons, lamber um gelado ou estar colada ao céu da boca quando estamos a respirar.


Que alterações pode haver no frénulo lingual? 

Existem pessoas que nascem com o frénulo lingual curto. Esta alteração denomina-se de anquiloglossia, podendo limitar a amplitude e os movimentos da língua. Não existem causas definidas para esta alteração, mas sabe-se que é uma condição congénita que não pode ser prevenida e que é mais prevalente no sexo masculino. Esta limitação na mobilidade lingual pode ter um impacto negativo em diversas funções orais.


Qual o impacto da anquiloglossia nas funções orais?

Uma das funções orais impactada pelo frénulo curto é a amamentação. A restrição na mobilidade da língua dificulta a pega correta do mamilo, fazendo com que o bebé o morda ao invés de sugar, podendo causar dor à mãe. Esta dificuldade na amamentação pode fazer com que seja difícil para o bebé ganhar peso.


respiração também pode ser influenciada por uma limitação no frénulo lingual. O modo de respiração fisiológico é realizado através do fluxo nasal (designado por modo respiratório nasal). Neste, a língua encontra-se acoplada ao céu da boca (palato). Quando o frénulo é curto a língua mantém uma postura em repouso aplanada no soalho da boca, ficando sem força. Esta posição habitual da língua, por sua vez, pode propiciar uma abertura da boca e, consequentemente, promover um modo respiratório oral, isto é, realizado através da boca.


Quando a criança começa a produzir os sons da fala e apresenta anquiloglossia pode apresentar dificuldade em articular sons que exijam mais amplitude da língua, como por exemplo o som /l/ (ex.: lua, sol, bicicleta) e o som /r/ fraco (ex.: cenoura, barco, prato). É possível também surgir uma produção distorcida de sons como o /s/ e o /z/ por avanço da língua, denominado por sigmatismo.


Perante um frénulo curto, na alimentação tendem também a surgir alterações na mastigação devido à dificuldade em lateralizar o alimento, limitando a realização de uma mastigação bilateral alternada. Esta dificuldade faz com que ocorram modificações no modo de trituração dos alimentos e movimentos compensatórios da musculatura em redor dos lábios. As alterações nesta função desencadeiam, consequentemente, alterações ao nível da deglutição (ato de engolir), ocorrendo um recrutamento da musculatura ao redor dos lábios para auxiliar no esforço a engolir devido à pouca mobilidade da língua. É possível também observar uma deglutição atípica em crianças com frénulo curto, pois devido à alteração de força, mobilidade e postura lingual, pode-se observar um avanço da língua com interposição nos dentes no momento de engolir. Após as refeições, geralmente, surge também a dificuldade na higienização da cavidade oral, tornando a criança mais suscetível a cáries. 


O que se pode fazer para ajudar?

Existem diferentes tipos de alterações do frénulo lingual, sendo fundamental estas serem identificadas por um profissional com formação avançada/especializada na área. Para além da avaliação anatómica da fixação e da inserção do frénulo, que pode ser realizada por um Médico Dentista com formação na área ou por um Terapeuta da Fala com formação especializada na área miofuncional, é também crucial a avaliação do impacto existente nas funções orais, a qual é realizada pelo Terapeuta da Fala com formação especializada na área miofuncional. Um freio lingual pode estar anatomicamente alterado, mas não restringir funções, daí a necessidade de uma avaliação completa/holística de cada caso particular.

É ainda muito importante ter em consideração de que nenhum frénulo se alonga ou autocorrige com o tempo, visto que as fibras que compõem esta estrutura não têm capacidade elástica. A correção de uma anquiloglossia só é possível fazer  através de um procedimento cirúrgico simples, por um médico devidamente capacitado para este tipo de procedimentos.


Após a cirurgia, para o real sucesso da intervenção, é fundamental o devido acompanhamento especializado em Terapia da Fala. Neste acompanhamento, o Terapeuta da Fala com formação especializada na área miofuncional realiza a monitorização da cicatrização. Posteriormente, através de terapia miofuncional,  o Terpeuta da fala deverá acompanhar a criança para adequar a força, postura e mobilidade da língua de forma a garantir uma adequação das funções orais alteradas. Apenas o corte do freio não corrige das alterações provocadas pelo mesmo.

Bibliografia


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