Afasia: Sabe o que é?
Mónica Monteiro, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer • 13 de dezembro de 2019

O que é a afasia? 

A afasia é uma perturbação adquirida da linguagem resultante de uma lesão cerebral, geralmente localizada no hemisfério esquerdo. Esta patologia pode comprometer vários aspetos da comunicação, nomeadamente, a compreensão oral, a expressão verbal, a leitura, a escrita e o cálculo.

A afasia pode ter um impacto preponderante na qualidade de vida da pessoa, pois, além de afetar a linguagem, pode causar limitações físicas e dificuldades na noção de identidade, na autoestima e nas relações sociais e afetivas.

Segundo a literatura, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a causa mais frequente da afasia. No entanto, esta patologia também pode ser causada por traumatismos cranianos, tumores cerebrais e doenças infeciosas.

Características da Afasia


A afasia pode manifestar-se de várias formas, dependendo da gravidade e localização da lesão, mas também da personalidade, inteligência, educação e hábitos do paciente. Por esse motivo, não existem duas pessoas que sofram de afasia da mesma forma.


Seguem algumas características que uma pessoa com afasia pode apresentar:

  • Dificuldades na fala ou ausência total da mesma;
  • Dificuldade em nomear nomes, cores, números, objetos, formas e/ou letras;
  • Trocas e repetições de palavras na linguagem oral (parafasias);
  • Alterações na compreensão da linguagem oral e escrita;
  • Dificuldades ao nível da repetição de palavras e frases;
  • Dificuldades na resolução de cálculos (acalculia);
  • Dificuldades em articular corretamente as palavras;
  • Alterações na entoação vocal (prosódia), ritmo lento e esforço vocal;
  • Dificuldade em iniciar ou manter uma conversa e em relatar factos;
  • Dificuldades de memória;
  • Perda da capacidade de leitura e escrita.

Tipos de Afasia


A afasia A afasia pode ser considerada como fluente (discurso produzido sem esforço e com débito normal) ou não fluente (discurso produzido com esforço e débito reduzido).


Entre as afasias não fluentes, incluem-se: a Afasia de Broca, a Afasia Transcortical Motora, a Afasia Transcortical Mista e a Afasia Global; e entre as afasias fluentes, incluem-se: a Afasia de Wernicke, a Afasia Transcortical Sensitiva, a Afasia de Condução e a Afasia Anómica.


O nome das afasias é dado de acordo com a área (ou áreas) da lesão cerebral. A classificação depende da avaliação de quatro parâmetros da linguagem oral específicos: a fluência do discurso, a nomeação de objetos, a compreensão oral e a repetição de palavras.


O quadro abaixo ilustra os vários tipos de afasia e as suas principais características


Factores de Risco da Afasia

Segundo Owens, Metz & Haas (2003), existem alguns fatores de risco que poderão conduzir ao AVC e, consequentemente, ao quadro de afasia, nomeadamente: hábitos tabágicos, abuso de álcool, dieta pobre, hipertensão, colesterol alto, diabetes, obesidade, stress, inatividade e idade avançada.

Como Comunicar com uma Pessoa com Afasia?

Seguem algumas orientações que poderão ajudar os familiares e os amigos a melhorar a forma de comunicar com a pessoa com afasia e que, consequentemente, contribuirão para a sua reabilitação:

  • Procure deixar a pessoa com afasia falar, não termine as suas palavras ou frases a não ser que ela peça;
  • Procure falar de forma calma e clara e evite locais com ruído;
  • Tente evitar o isolamento para que a pessoa não se sinta incapacitada;
  • Promova a independência, levando-a a participar em pequenas decisões que lhe dizem respeito (ex.: escolher a roupa, a comida);
  • Procure certificar-se que a sua comunicação está a ser bem-sucedida e, se necessário, utilize outros meios de comunicação, como por exemplo o desenho ou os gestos;
  • Utilize algumas imagens simples, fotografias de locais ou pessoas próximas da pessoa com afasia, para que ela possa apontar e assim minimizar as suas dificuldades de comunicação;
  • Evite superprotegê-lo: é um adulto e deve ser tratado como tal. Se fizer por ele não o ajuda a desenvolver as suas capacidades.

A Importância da Terapia da Fala na Reabilitação da Afasia


Num caso de afasia é necessário considerar o tipo, a localização, a etiologia e o tamanho da lesão cerebral, assim como os fatores individuais de cada pessoa (ex.: idade e dominância manual).


O diagnóstico de afasia é realizado pelo Terapeuta da Fala e, em função da avaliação, é delineado um plano de intervenção que terá como principais objetivos maximizar a comunicação e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida do paciente.


O Terapeuta da Fala, através de diversos métodos e estratégias, ajuda o paciente a melhorar as suas capacidades comunicativas e, se necessário, a desenvolver métodos alternativos de comunicação, de forma a que seja recuperada alguma autonomia e exista um aumento da funcionalidade nas atividades do quotidiano. Além disso, indiretamente, o Terapeuta intervém também junto da família e dos cuidadores, no sentido de aumentar a sua compreensão sobre a patologia e de fornecer estratégias que facilitem a comunicação com o paciente.

Bibliografia

  • Caldas, A. C. (2000). A herança de Franz Joseph Gall: O cérebro ao serviço do comportamento humano. Liaboa: McGraw-Hill.
  • Jakubovicz, R. (2004). Avaliação em Voz, Fala e Linguagem. Rio de Janeiro: Revinter Ltda.
  • Owens, R., Metz, D., & Haas, A. (2003). Introduction to communication disorders- a life span perspective (2ªedição). Boston: Pearson Education.
  • Riper, C. V., & Emerick, L. (1997). Correcção da linguagem: uma introdução à patologia da fala e audiologia. Porto Alegre: Artes Médicas.

Exemplos de pesquisa: #psicologia, #terapiadafala, ansiedade, voz
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De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais 5ª Edição (DSM-5), a Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é uma alteração do neurodesenvolvimento, caracterizada por défices na interação social e capacidade comunicacional, pela ocorrência de comportamentos repetitivos e estereotipados e pela presença de interesses restritos (Khaledi et al., 2022; Mohammed, 2023; Posar & Visconti, 2017). O ser humano interage com o meio envolvente desde o seu nascimento, através de uma rede complexa de recetores que enviam constantemente informações ao sistema nervoso central que, consequentemente, geram uma determinada reação (Vives-Vilarroig et al., 2022). Estas informações são captadas através dos diferentes sentidos, uma vez que são estes que moldam as diferentes sensações e as transmitem, possibilitando ao ser humano a compreensão do que o rodeia e a formulação de diferentes conceções (Silva, 2014). Vários estudos têm evidenciado que crianças com PEA percecionam os estímulos ambientais de diferente forma, presenciando dificuldades na adequada resposta ao meio ambiente (Silva, 2014).
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