Introdução da Alimentação no Primeiro Ano de Vida do Bebé
Tânia Santos, Terapeuta da Fala no Espaço Crescer • 7 de agosto de 2020
Sabia que a boca é o órgão com maior número de recetores sensitivos e tem várias funções como a receção dos alimentos, a proteção e o controle do sistema respiratório e digestivo?

Na presente newsletter, falaremos um pouco sobre a introdução alimentar no primeiro ano de vida do bebé, considerando o olhar de uma Terapeuta da Fala.



O desenvolvimento Sensório-Motor Oral (SMO) inicia-se ainda no período intrauterino, no qual o feto experimenta diferentes estímulos vindos dos meios intra e extrauterino e de si próprio. A exposição a estes estímulos (sensitivos, gustativos, vestibulares, auditivos, propriocetivos…) é fulcral para a programação sensório-motora envolvida nas funções orais quando o bebé nascer, não só na sucção, deglutição e respiração, como também, posteriormente, na mastigação e na fala da criança. O desenvolvimento do SMO dependerá das suas experiências sensoriais intrauterinas, da maturação do Sistema Nervoso Central (SNC), da herança genética e dos estímulos ambientais ao longo da vida, sendo que os primeiros anos de vida são essenciais para este desenvolvimento.

Após o nascimento, o bebé passa por diferentes fases ao nível da alimentação. A Organização Mundial de Saúde apela e reforça a importância da amamentação exclusiva durante os primeiros seis meses de vida. Apesar de não existir uma idade precisa na qual a alimentação complementar ao leite deve ser introduzida (pois cada bebé tem o seu desenvolvimento e as suas características), sabe-se que entre os 4 aos 6 meses, ocorre uma maturação neurológica muito significativa que será visível ao nível da competência motora oral, da aprendizagem de novos padrões comportamentais e do reconhecimento e integração sensoriais. Deste modo, por norma, nesta fase, inicia-se a introdução gradual dos alimentos e consistências. Esta nova etapa para o bebé e para a família requer paciência, calma e tempo, pois cada bebé tem a sua forma de aceitar e participar em novas experiências....

Cada bebé é único e existem pré-requisitos para iniciar a sua introdução alimentar:
  • Controlo da postura
  • Interesse pela comida
  • Coordenação óculo-manual

Todas as experiências sensoriais que os bebés obtêm, quer através da exploração oral de objetos, das mãos ou quer através da ingestão de alimentos com diferentes consistências, texturas, sabores e/ou temperaturas, contribuem para um adequado desenvolvimento da musculatura oro-facial[1] e dento-esquelética e previnem a ocorrência de alterações no Sistema Estomatognático. 

 

O desenvolvimento correto destas estruturas, associado à maturação neurológica, permitirão a execução correta das funções neurovegetativas, nomeadamente, a fala (Bigenzahn, 2004).


[1] Musculatura da face e da cavidade oral


Introdução dos Primeiros Alimentos


No que concerne à introdução dos primeiros alimentos ao bebé, existem diferentes abordagens, opiniões e estratégias, sendo importante conseguir retirar as vantagens de todas elas. Deste modo, é importante orientar o bebé para que a introdução dos alimentos ocorra com sucesso, de forma a não só desenvolver corretamente as estruturas oro-faciais, como também a própria mastigação e, mais tarde, a fala, como também prevenir alguma seletividade alimentar no futuro.


É importante que o bebé no primeiro ano de vida explore diferentes texturas, sabores e consistências (pastoso, semissólido e sólido) e que crie memórias positivas com a alimentação. Estas memórias positivas são criadas através: da partilha tranquila e satisfatória dos momentos de refeição com a família; da exploração dos alimentos com as mãos/boca; da interação frequente entre o bebé, a comida e os pais; e da utilização de talheres, pratos, copos e cadeiras de alimentação adequados a cada fase de desenvolvimento. Ressalva-se ainda a importância de se respeitar o mecanismo fisiológico de autorregulação (fome/saciedade) do bebé e a progressão de texturas de acordo com as competências de controlo oral.

A Relação entre os Alimentos Sólidos e a Mastigação


Os alimentos sólidos durante a masti­gação estimulam o aumento da força que a musculatura oro-facial exerce sobre os dentes. Tal facto, modificará não apenas a qualidade da mastigação, como também o desenvolvimento dos ossos maxilares, dos arcos dentários e dos dentes, minimizando a possibilidade de alterações na oclusão, na produção da fala, entre outras eventuais repercussões.


Por outro lado, quando, por fatores diversos, a introdução dos alimentos semissólidos ou sólidos é feita mais tardiamente, ou a alimentação é maioritariamente com consistências mais macias ou húmidas, o desenvolvimento dos ossos maxilares poderá ser influenciado. Isto ocorre porque o estímulo necessário nos ciclos mastigatórios é reduzido na formação do bolo alimentar, podendo levar ao estreitamento do arco maxilar e a um baixo tónus (hipotonia) dos músculos mastigatórios (Vieira, Araújo & Jamelli, 2016).

Em suma, a alimentação, sendo uma prática social e cultural, deve ser variada ao nível das texturas, consistências e, ainda, deve ser premiada a criação de memórias positivas na relação com a comida no momento da refeição. Estes aspetos serão facilitadores no desenvolvimento da criança de forma global, influenciando o paladar e a relação que ela terá com a comida, evitando, assim, o desenvolvimento de alterações futuras.

Bibliografia
  • Batista A. (2020). Introdução da alimentação: como fazer o seu filho comer de tudo: compreender como o se processa a introdução alimentar. e-book – speechy.pt
  • Bigenzahn, W. (2004). Disfunciones Orofaciais en la infancia: diagnóstico, Terapia Miofuncional y Logopedia. Barcelona: Ars Medica.
  • Vieira, V.; Araújo C. & Jamelli S. (2016). Desenvolvimento da fala e alimentação infantil: possíveis implicações. CEFAC.
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